Bordeaux, 19 de junho de 2011.
Esta tarde tivemos ocasião de participar de uma degustação de vinhos da Turquia no primeiro dia da Vinexpo, em Bordeaux.
Curiosamente a degustação nos surpreendeu bastante, e tivemos a ocasião de provar grandes vinhos. O primeiro a salientar é a coexistência de inúmeras variedades autóctonas com as de renome internacional. Como variedades locais brancas podemos citar a Emir, Narince, Sultaniye e Bornova Misketi, e como tintas, a Çalkarasi, Kalecik Karasi, Öküzgözü e Bogazkere. Além disto, dentro das variedades internacionais, estão produzindo a Sauvignon Blanc, Chardonnay, Merlot, C. Sauvignon e Shiraz.
A degustação, a cargo do sommelier Paolo Basso (Meilleur Sommelier d'Europe ASI 2010), começou com o vinho branco Vinkara (var. Narince, 2009). Vinho moderno e expressivo, apresentava uma coloração amarelo-palha com matizes dourados, muito brilhante. Intensidade alta em primeira olfação e exibindo elegante bouquet com predominância de frutas tropicais cítricas, kiwi, abacaxi e melão. Em nariz apresentava também um certo caráter defumado e algo mineral. Vinho untuoso em boca, com bom conteúdo glicérico e um pós-gosto prolongado e ainda devolvendo essas recordações a cítricos e frutas tropicais.
O segundo branco era um Vinolus (Chardonnay, 2009, 13,5%). Coloração amarela profunda com matizes dourados intensos; muito brilhante e vivo. Intensidade aromática alta com predominância de caráter defumado e a tabaco e cítricos em segundo plano. Apresentava em segunda olfação aromas a café, baunilha, caramelo, e abundânciade frutas tropicais, cítricas especialmente. Em boca mostrava-se um vinho muito intenso com um certo amargor persistente mas não verde, com algum toque mineral (provavelmente em função do solo vulcânico de origem), acidez bem equilibrada e álcool pronunciado; apresentava notas típicas cítricas (limão e pomelo) e minerais, além de um certo toque a coco, baunilha e torta de maçã. Enfim, um vinho bastante dinâmico, fresco e expressivo.
O terceiro vinho da sério foi um tinto Kavaklindere (var. Öküzgözü, 2008, 13,5%). Um vinho fácil de beber, com uma coloração rubi intensa e brilhante. Boa intensidade aromática, com notas florais e a frutas frescas como ameixa e cereja. Com a agitação da taça vinham à tona aromas a frutas negras maceradas e certo toque apimentado e a ervas frescas. Em boca apresentava um bom ataque e intensidade moderada, notas a geléia de frutas do bosque, acidez presente e certo calor alcoólico, taninos vigorosos e pronunciados. No pós-gosto nos retornava essas notas a especiarias mas com uma duração média, deixando a desejar um pouco neste ponto.
O quarto vinho foi um Vinolus tinto (var. Shiraz, 2009, 14,9%). Um vinho rico, expressivo e muito generoso, porém não demasiado sofisticado. Coloração densa, muito lacrimoso (indicando boa estrutura). Intensidade média-alta em primeira olfação, denotando frutas maceradas, pimenta negra, framboesas e um álcool potente. No paladar, um vinho impactante, com álcool persistente, bem balanceado e com boa acidez; muito expressivo. Taninos marcados no paladar médio, bem adstringentes, mas não chegando a verdes. Pós-gosto de intensidade média que, provavelmente com mais aeração, se expressaria mais.
A continuação nos deparamos com o Doluca Signium assemblage de Shiraz, Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc (2008, 14,8%). Vinho de coloração densa e brilhante e pequena auréola denotando tendência ao envelhecimento. Bouquet rico em especiarias, defumados, frutas negras em compota; álcool potente. Em boca apresentava um calor generoso, notas a melão, mas com uma adstringência um pouco verde. Intensidade alta no pós-gosto, indicando boa técnica de assemblage, pedindo mais aeração antes do serviço e com potencial de guarda de 6 a 7 anos.
O sexto vinho também tratava-se de um assemblage. Kayra (2006), apresentava 80¨% da variedade Öküzgözü, 6% Shiraz, 7% Bogaskere, 6% Petir Verdot. Boa intensidade colorante, vermelho-escuro. Intensidade média-alta em nariz, com aromas a compota, porém um pouco oxidado. Em boca apresentava um calor generoso, alcoólico, rico e bem estruturado; taninos potentes e com um certo caráter viril. Vinho com um caráter bastente rústico, ideal para acompanhar carnes de uma ocasião festiva.
Por último, e um dos mais curiosos no meu ponto de vista, provamos o Kayra Imperial Shiraz (95% Shiraz, 5% Petit Verdot; 2005, 13,5%). Curioso porque é um assemblage que será marcado pelas variedade mais destacada de cada ano, sempre diferente. Concretamente, este apresentava uma intensidade média-alta, maduro, com aromas de frutas do bosque, rico e expressivo também. Em boca era balanceado, com um ataque pronunciado e quente. Taninos potentes, não agressivos, e tendendo a abrir-se volumosamente no paladar. Boa acidez, expressivo e bem estruturado. Final longo, intenso, franco e afrutado. Um vinho elegante e potente, com potencial para harmonizaçoes com pratos de gastronomia mais estilizada.